Caldo de Galinha, um pouco do Ingenuidade e Utopia não fazem mal a ninguém
- carlospessegatti
- há 10 horas
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Quem é Paul Mason?
Paul Mason é um jornalista, economista e pensador britânico, vinculado à tradição da esquerda progressista. Nasceu em 1960, no Reino Unido. Trabalhou como editor de economia para a BBC Newsnight e Channel 4 News. Sua obra explora temas como economia política, crise do capitalismo, tecnologia digital e movimentos sociais contemporâneos. Mason defende a ideia de que a tecnologia digital, aliada à ação cidadã e a novos modelos cooperativos e descentralizados, pode formar a base para uma transição pós-capitalista. Ele combina marxismo, teoria da informação e análise de movimentos sociais recentes como Occupy e a Primavera Árabe.
Quem é Jeremy Rifkin?
Jeremy Rifkin é um economista, sociólogo e teórico norte-americano, nascido em 1945. É conhecido por seu trabalho sobre o impacto das mudanças científicas e tecnológicas na economia, na sociedade e no meio ambiente. Rifkin é um pensador estratégico que aconselhou governos e empresas em todo o mundo.
Sua obra recente gira em torno da chamada Terceira Revolução Industrial, da Internet das Coisas e do impacto das tecnologias digitais na transformação radical do modelo econômico — principalmente em direção a redes colaborativas e descentralizadas.
Principais Livros
Paul Mason — "PostCapitalism: A Guide to Our Future" (2015)
Resumo:
Neste livro, Mason argumenta que estamos entrando numa era de pós-capitalismo, impulsionada pela tecnologia da informação. A lógica da informação — baseada em custos marginais baixos e em redes — mina a lógica do mercado tradicional capitalista. A capacidade de produzir bens e serviços de forma descentralizada e com custos quase nulos ameaça a antiga estrutura hierárquica do capital.
Mason acredita que as redes digitais criam condições para a emergência de novas formas de cooperação econômica: produção de bens comuns (commons), cooperativas digitais, redes P2P (peer-to-peer) e moedas alternativas. Ele vê os movimentos sociais como catalisadores desse processo. Mas alerta: sem uma intervenção consciente, o capitalismo pode se adaptar de forma autoritária.
Tese principal:
A tecnologia da informação tende a corroer o capitalismo de dentro, criando a base para uma nova economia descentralizada e colaborativa — mas é necessária ação política para orientar essa transição.
Jeremy Rifkin — "The Zero Marginal Cost Society: The Internet of Things, the Collaborative Commons, and the Eclipse of Capitalism" (2014)
Resumo:
Neste livro, Rifkin desenvolve a ideia de que a digitalização e a Internet das Coisas conduzem a uma economia onde o custo marginal (o custo de produzir uma unidade adicional) caminha para zero. A manufatura digital (impressão 3D, energias renováveis descentralizadas, smart grids) e a comunicação entre máquinas (IoT) permitem que produtos e serviços sejam compartilhados e reproduzidos quase gratuitamente.
Isso leva à ascensão do Commons Colaborativo: uma esfera de bens e serviços compartilhados fora da lógica de mercado tradicional. Para Rifkin, a consequência será o encolhimento drástico do setor capitalista clássico e o crescimento de práticas colaborativas autogeridas.
Tese principal:
A digitalização e a automação conduzem a uma sociedade onde a lógica do lucro é suplantada pela lógica do compartilhamento em rede — a "Sociedade do Custo Marginal Zero".
Comparativo Crítico entre Mason e Rifkin
Aspecto | Paul Mason (PostCapitalism) | Jeremy Rifkin (The Zero Marginal Cost Society) |
Diagnóstico do Capitalismo | Em crise estrutural, incapaz de suportar as forças que a tecnologia desencadeou. | Em processo de erosão gradual devido ao avanço da tecnologia e da colaboração em rede. |
Papel da Tecnologia | Cria novas relações de produção descentralizadas, mas precisa ser politicamente dirigida. | Tecnologias inevitavelmente conduzem à emergência do Commons, de forma quase automática. |
Perspectiva Política | Marxismo atualizado com forte ênfase na necessidade de luta social e transição organizada. | Evolucionismo otimista — a tecnologia gera novas estruturas sem necessidade de rupturas políticas radicais. |
Visão dos "Commons" | Instrumento de resistência e substituição ao capitalismo; requer ação consciente. | Resultado quase espontâneo das forças técnicas, com menor ênfase na luta de classes. |
Estilo de Análise | Dialético, histórico e baseado em uma crítica do capital. | Sistêmico, tecno-otimista e baseado em projeções tecnológicas. |
Análise Final
Mason é mais radical e historicamente fundamentado: ele lê a digitalização através das lentes do materialismo histórico marxista — entende que o capitalismo tenta capturar as novas tecnologias para sua reprodução, e por isso a transição para o pós-capitalismo não será automática nem pacífica.
Rifkin é mais otimista e determinista tecnológico: ele vê as tecnologias digitais como forças históricas imparáveis, levando ao fim natural da lógica do lucro sem necessidade de um confronto político agudo.
Se quisermos sintetizar:
Mason propõe uma luta pelo pós-capitalismo;
Rifkin prevê uma transição evolutiva para o pós-capitalismo.
📜 Manifesto pela Liberdade Digital Consciente
— Pelas Redes do Comum e Contra as Algemas da Utopia
O futuro está sendo semeado nas fibras invisíveis das redes.
A informação pulsa livremente, desafiando séculos de cercamentos, monopólios e exclusões.
O conhecimento se desmaterializa, a música, as imagens e as palavras flutuam no éter digital, recusando-se a caber nas antigas fronteiras da escassez.
Paul Mason vislumbrou essa aurora: a da dissolução do capitalismo pela própria lógica da informação, que não pode ser confinada.
Jeremy Rifkin sonhou com um tempo em que os bens e serviços atingiriam o custo marginal zero, e as tecnologias colaborativas nos devolveriam à comunalidade primordial.
Mas toda aurora carrega também sombras.
E toda nova rede pode se tornar também nova prisão.
Acreditar que a tecnologia, sozinha, libertará a humanidade, é ignorar as forças que sempre buscaram capturar toda invenção, toda possibilidade, para reproduzir a dominação.
O capital é líquido, adaptável, invisível — ele não cederá espaço sem luta.
O Estado, mesmo cercado por fluxos digitais, buscará novas formas de vigilância, repressão e normalização.
O mercado, ávido, já transforma nossos gestos, emoções e desejos em mercadorias a serem mineradas, vendidas, consumidas.
O Comum Digital é uma possibilidade — não uma certeza.
Ele exige consciência, organização e insubmissão.
Requer redes que não apenas compartilhem dados, mas construam solidariedades reais.
Requer algoritmos transparentes, códigos abertos, plataformas governadas pelos próprios usuários — não pelos senhores invisíveis do capital de vigilância.
Requer que a cultura se recuse a ser pacificada, que a arte não se renda ao entretenimento vazio.
Requer a criação incessante de zonas autônomas, físicas e digitais, onde a liberdade se experimente e se defenda.
O que está em jogo é mais do que tecnologia: é o destino da própria humanidade.
Se abraçarmos a utopia ingênua de que as redes, por si mesmas, nos libertarão, seremos rapidamente tragados por uma nova servidão, mais insidiosa porque revestida de conexão e instantaneidade.
Mas se cultivarmos as sementes de uma liberdade lúcida, combativa e cooperativa, podemos construir um mundo onde os comuns digitais, os saberes compartilhados e a cultura viva sejam a matéria de uma nova era humana.
Esta não é uma promessa.
É uma convocação.
Que o futuro não seja um algoritmo a nos dominar, mas uma sinfonia de seres livres, conscientes e solidários, tecendo juntos a próxima página da história.
Pelas redes do Comum.
Contra as Algemas da Utopia.
Pela Liberdade Digital Consciente.
📜 Manifesto da Insurreição Digital
— Por uma Liberdade que Não se Vende
Em cada fio de luz que atravessa o éter, uma promessa dorme.
A promessa de que a palavra, o gesto, o saber, o sonho — todos possam atravessar fronteiras sem pedir permissão.
Que o canto dos comuns, abafado por séculos de muros e moedas, volte a ressoar livremente na praça infinita das redes.
Paul Mason acendeu esta fagulha:
Que a informação, sendo vapor e não pedra, dissolve os grilhões do capital.Jeremy Rifkin soprou sobre ela:
Que a abundância tecnológica, como uma nova primavera, faria murchar as cercas da propriedade.
Mas nós, que caminhamos entre ruínas e algoritmos, sabemos:
Não basta sonhar.
É preciso incendiar.
O capital não dorme.
Ele transforma os nossos desejos em mercadoria, as nossas redes em jaulas douradas, a nossa liberdade em mais um produto a ser consumido.
A cada click, a cada aceite, a cada deslizar de dedos, ele se renova, se reinventa, se fortalece.
O Comum não nascerá sem luta.
Ele exigirá de nós mais do que tecnologia:
Exigirá coragem.
Exigirá consciência.
Exigirá desobediência criadora.
Pois de que nos servirá uma internet de tudo, se ela apenas mapear a servidão?
De que nos servirá a abundância, se for apenas o eco do vazio?
De que nos servirá o custo marginal zero, se os valores forem leiloados a preço nenhum?
Não queremos apenas redes mais rápidas — queremos redes que saibam sonhar.
Não queremos apenas informação abundante — queremos sabedoria coletiva.
Não queremos apenas consumo livre — queremos existência plena.
E que ninguém se engane:
o que começa como uma centelha no espaço digital precisa se tornar chama no espaço real.
Que surjam comunidades autônomas, conhecimentos partilhados, culturas insurgentes, laboratórios de utopias práticas.
O Manifesto é simples e terrível:
Ou nos libertamos junto
Ou seremos dominados sozinhos.
As máquinas podem ser nossas aliadas — mas a liberdade, esta, terá de ser construída com as nossas próprias mãos.
Que o Comum não seja uma esperança morta na prateleira das promessas quebradas.
Que ele seja uma árvore viva, enraizada nas redes e florescendo nos corpos, nos territórios, nas consciências.
Pelas teias da rebelião solidária.
Pelas sementes da inteligência insurgente.
Pela liberdade que nenhum servidor pode armazenar.
Pelo futuro que pulsa no agora.
Nós somos o que ainda não foi escrito.
Nós somos o código que se recusa a ser capturado.
Nós somos a aurora que exige ser feita.
O Manifesto está lançado

Utopias viáveis desde que haja vontade firme para sua implementação.