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John Cage e o Som das Probabilidades

  • carlospessegatti
  • há 1 dia
  • 5 min de leitura



A estética do indeterminado como espelho da Física Quântica e dos Multiversos


Quando John Cage declarou que qualquer som podia ser música, ele não apenas expandiu os limites da composição — ele desfez as paredes da partitura e as dissolveu em puro espaço-tempo sonoro. Sua obra, longe de ser mero experimentalismo, ecoa diretamente os princípios mais fundamentais da Física Quântica e da Teoria das Cordas: incerteza, multiplicidade de estados, entrelaçamento e emergência de padrões a partir do caos aparente.


Assim como no princípio da superposição quântica, Cage via a música como um campo de possibilidades — e não de certezas. Em sua famosa peça 4'33'', o silêncio não é ausência, mas presença potencial: uma partitura aberta ao acaso do mundo, como se o próprio universo executasse sua sinfonia. Cada performance da peça é um universo paralelo — um multiverso sonoro onde o tempo e o espaço se tornam protagonistas.


Seu conceito de “música indeterminada” aproxima-se da ideia de que a realidade é construída por colapsos de probabilidades — como a função de onda quântica.


O uso do acaso (como o I Ching para decisões composicionais) representa uma confiança radical na lógica do imprevisível, como se a composição fosse uma forma de ouvir o cosmos antes que ele se torne matéria.


O “piano preparado” — com objetos entre as cordas transformando timbres — pode ser lido como uma metáfora das vibrações das cordas na teoria homônima: uma mesma estrutura fundamental (o piano) pode vibrar de múltiplas maneiras, gerando diferentes realidades sonoras. Cada modificação da preparação transforma o instrumento em um novo universo, como se Cage estivesse explorando as dimensões ocultas sugeridas pelos físicos — ressoando além das três dimensões ordinárias, penetrando na quarta, na quinta...


Além disso, sua obra visual e filosófica constrói um universo multifacetado, onde som, palavra, imagem e silêncio coexistem em estados de interpenetração, como partículas e ondas, como matéria e energia. Cage não buscava a harmonia no sentido tradicional: ele buscava a escuta plena, o esvaziamento do ego, o desapego do controle — atitudes quase taoístas, mas também profundamente compatíveis com uma visão de mundo em que o observador influencia o fenômeno observado.


John Cage foi, talvez, um compositor de universos. Seu legado não é apenas musical, mas cósmico: uma partitura viva onde as leis da física dançam com a arte, onde cada som é a reverberação de uma realidade ainda por vir.




🎧 John Cage e a Arte do Silêncio: Entre o Som, o Tempo e a Consciência


Por Callera Jarrelis


🌌 Introdução | Quando o Som se Torna Pensamento

No limiar do século XX, quando a música ainda se debatia entre o formalismo da tradição e as dissonâncias da modernidade, um homem resolveu calar tudo para ouvir o mundo: John Cage. Mais do que um compositor, Cage foi um filósofo do som, um provocador da escuta, um artista do imprevisível. Suas obras não são apenas partituras: são interrogações.


Este artigo propõe um mergulho em sua vida e obra, destacando como sua radicalidade estética toca em questões essenciais da contemporaneidade — como o tempo, a escuta, o controle, o acaso e a própria noção de subjetividade.


🔍 I. Vida e Percurso | O Som da Transformação

John Milton Cage Jr. nasceu em 1912, em Los Angeles, e desde cedo revelou um espírito inquieto. Ao longo da vida, recusou o caminho da música convencional, aproximando-se de tradições orientais como o Zen-budismo e o Taoísmo, que lhe forneceram o arcabouço para repensar a música como experiência de presença, não como espetáculo.


Influenciado por Arnold Schoenberg e Henry Cowell, Cage rompeu com a noção de estrutura fixa e harmonia. Em vez de controle, optou pelo acaso, pela escuta radical, pelo som do mundo como ele é.


🌀 II. 4’33” | O Gesto Revolucionário

Sua obra mais célebre — e mais desafiadora — é 4’33” (1952). Uma composição em que o pianista não toca nenhuma nota. O silêncio aparente se revela um campo vibracional em que os sons do ambiente tornam-se os verdadeiros protagonistas.


“Tudo o que fazemos é música. O som do tráfego, o som da respiração, o som do vento — tudo isso é música.”— John Cage


Com esse gesto, Cage desloca a escuta do palco para o mundo. Música, para ele, é o tempo vibrando no espaço do real. É o ouvido como instrumento filosófico.


🔧 III. Técnica e Filosofia | O Aleatório como Método

A partir dos anos 1950, Cage incorpora o I Ching — o milenar oráculo chinês — ao seu processo criativo. Com isso, abandona o papel tradicional do compositor como "controlador de formas" e se torna um mediador do acaso. A arte deixa de ser imposição e se torna relação com o indeterminado.


“Não tenho o que dizer e estou dizendo — e isso é poesia quanto basta.”— Lecture on Nothing


O uso de pianos preparados, objetos não-musicais, rádios e aparelhos eletrônicos marcou seu desejo de quebrar as fronteiras entre sons "aceitáveis" e "não musicais", entre o humano e a máquina, entre controle e fluxo.


🧠 IV. Cage e a Mente Contemporânea | Entre o Caos e o Controle

A obra de Cage antecipa muitas inquietações da contemporaneidade:

  • A dissolução da autoria e a crítica ao ego criador.

  • A escuta como resistência à velocidade e ao ruído do mundo capitalista.

  • A fusão entre arte, vida e espiritualidade.

  • O colapso do espetáculo e a valorização da experiência.

  • A valorização do erro, da falha, do acaso como forças poéticas.


Num mundo orientado por algoritmos e eficiência, Cage oferece uma pedagogia do descontrole criativo, uma escuta que acolhe o imprevisível como gesto existencial.


🎼 V. Obras para Escuta e Reflexão

Algumas obras essenciais para mergulhar na estética de Cage:

🎧 4’33” — A obra-silêncio. Escute com o mundo aberto.🎧 Sonatas and Interludes — Para piano preparado. Timbres surreais e meditativos.🎧 Music of Changes — Composta com o I Ching. Total indeterminação.🎧 Imaginary Landscape No. 4 — Para 12 rádios tocados ao vivo.🎧 Concert for Piano and Orchestra — Anarquia formal e libertação do som.


Sugestão: ouvir com fones de ouvido, em diferentes ambientes (dia e noite), e perceber como o espaço modifica a obra.


🌱 VI. Cage como Semente para Novas Musicalidades

A minha música, que transita por dimensões invisíveis, paisagens pós-humanas e texturas cósmicas — pode dialogar com Cage não por influência direta, mas por afinidade espiritual.


Ele me oferece o silêncio como matéria sonora, o tempo como ritual, o erro como revelação. Um possível álbum inspirado por Cage poderia explorar:

  • O silêncio do vácuo cósmico.

  • O ruído das máquinas ancestrais.

  • A música da aleatoriedade quântica.

  • Ou mesmo a escuta do planeta em colapso.


📝 Escutar é Existir

John Cage nos lembra que o mundo inteiro está em constante composição. Mas a escuta verdadeira exige presença, desapego, abertura. Sua música não é sobre tocar, mas sobre ser tocado.


Em um mundo saturado de sons que não escutamos, Cage nos devolve o ouvido — e com ele, a possibilidade de sermos mais humanos, mais atentos, mais sensíveis ao invisível que nos atravessa.


John Cage: Music of Changes (1951)







 
 
 

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